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FIANB 2023

 Transatlanticidade 

Com o retorno e fortalecimento das institucionalidades brasileiras, inclusive em âmbito internacional, é necessário pensar quais imagens do Brasil estão sendo exportadas. Em um país formado por 54,6% de pessoas que se autodeclaram negras, é mais do que urgente reafirmar o compromisso em construir outro imaginário sobre e para pessoas negras e não-negras, uma vez que testemunhamos, nestes últimos 5 anos, um ciclo intenso de imagens de violência e uma onipresença de evocações de morte. Um genocídio que se configura no extermínio negro (intensificado pela pandemia) e também no que é hiperpresente nas telas, reiterando um imaginário colonizado, subalternizante.

Esta edição tem como tema central a Transatlanticidade, no diálogo com África e as diásporas Afro-Atlânticas sobretudo nas Américas e no Caribe, trazendo os eixos de distribuição e exibição/circulação de filmes como estruturas centrais para dialogar com o tema. Evocamos o pensamento da historiadora Maria Beatriz Nascimento, que reconhece os deslocamentos e as reinvenções como parte fundante das trajetórias negras. Sendo assim, a conexão entre regiões é essencial para dialogar com as escrituras e proposições da pensadora, além de instaurar uma rede de discussão e conexão que reúna eventos de Cinemas Negros no Brasil, entendendo a promoção da discussão de imagens e narrativas de/para/por pessoas negras.

Beatriz Nascimento já nos apresentava a ideia de quilombo como um “instrumento ideológico” que fornece material para uma “ficção participativa” – ficção aqui que, para nós, é fabulação que nos possibilita invenções de pertencimento e de possibilidades de vida com e no audiovisual. Um pensamento-guia para nosso QuilomboCinema (COSTA, 2022). Nascimento também nos ensina que essa força coletiva se constitui como uma potência de “correção de nacionalidade”. Qual Brasil e qual audiovisual são possíveis sem a plena existência negra?

Seguimos, ampliando nossas parcerias internacionais, para negritar nosso pertencimento para além das fronteiras dos imaginários e de uma ideia de nação. Compreendemos a urgência do fortalecimento das nossas intervenções no imaginário coletivo, colocando em diálogo a nossa memória e a nossa presença, junto com as pulsações diaspóricas e africanas.

Kariny Martins e Tatiana Carvalho Costa - Direção Artística

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